Sabe quando você faz tudo direitinho, treina, se alimenta, fortalece na academia, mas ai tem aquele dia em que, como diria Luis Enrique, treinador do Barcelona, “os astros não estão alinhados”!? Foi hoje…
Minha última corrida tinha sido a 33ª Corrida do Fogo, no distante dezembro de 2016. Já tinha em mente que em 2017 correria apenas meias(-maratonas). Olhando o calendário, várias opções: Meia-Maratona de Fortaleza (MMF), abril, 25k/50k do Desafio do Araripe (abril), Pague Menos (maio), Meia-Maratona da Terra do Sol (junho, acho), Pão de Açúcar (julho), uma prova da Band prevista para setembro e uma ainda em março, que não é bem uma Meia-Maratona, é mais: O Desafio das Pontes, 24,5km.
Em 2017, a sexta edição. As inscrições estavam abertas desde janeiro e fiz logo no início, pagando R$ 67,00. Como já era o plano para este ano, procurei seguir a rotina de treinos para um ano voltado a estas corridas mais longas.
Ao final do ano passado, um grande presente de Natal: a nossa segunda gravidez! Quanta felicidade. Essa ótima notícia acabou impactando nos planos do asfalto; as viagens só poderiam ser até junho e os treinos da semana ficaram comprometidos, uma vez que a mamãe estava (e ainda está, embora menos) enjoando bastante, o que comprometeu a questão de seu trabalho e deixar o JC na escola. Essa missão ficou com o papai. E como em Sobral nessa época do ano o dia só amanhece, mesmo, perto de seis, praticamente abri mão do treino no asfalto pela manhã. Quando dá, estou indo a tarde. Quando não, é na esteira da academia.
Mesmo assim, o longão no final de semana estava sendo cumprido. Nunca menos de 18km. Fiz treinos de 18km, 20km, 22km, 25km, 26km e alguns desses me sentindo inteiro ao final (nas manhãs nubladas com leve chuva é bem mais fácil). Comparado ao período de preparação para a prova da Pague Menos em setembro de 2016, para o Desafio das Pontes eu estava muito melhor preparado. Além disso, a parte de fortalecimento na academia estava sendo melhor cumprida em 2017.
Sendo assim, eu estava tranquilo para esta prova.
Na sexta cheguei à capital Alencarina e o Valber já tinha pegado nossos kits. Corrida roots!
Número de peito? Chip? Isso é para as corridas do tipo Nutella! Só camisa e pulserinha para receber a medalha no final. Como nunca tivemos fetiche por kits de corrida, sem problemas. Queremos correr! E como fora prometido ambulância e hidratação (ainda que a cada 5km), então pronto.

Minha última corrida tinha sido a 33ª Corrida do Fogo, no distante dezembro de 2016. Já tinha em mente que em 2017 correria apenas meias(-maratonas). Olhando o calendário, várias opções: Meia-Maratona de Fortaleza (MMF), abril, 25k/50k do Desafio do Araripe (abril), Pague Menos (maio), Meia-Maratona da Terra do Sol (junho, acho), Pão de Açúcar (julho), uma prova da Band prevista para setembro e uma ainda em março, que não é bem uma Meia-Maratona, é mais: O Desafio das Pontes, 24,5km.
Em 2017, a sexta edição. As inscrições estavam abertas desde janeiro e fiz logo no início, pagando R$ 67,00. Como já era o plano para este ano, procurei seguir a rotina de treinos para um ano voltado a estas corridas mais longas.
Ao final do ano passado, um grande presente de Natal: a nossa segunda gravidez! Quanta felicidade. Essa ótima notícia acabou impactando nos planos do asfalto; as viagens só poderiam ser até junho e os treinos da semana ficaram comprometidos, uma vez que a mamãe estava (e ainda está, embora menos) enjoando bastante, o que comprometeu a questão de seu trabalho e deixar o JC na escola. Essa missão ficou com o papai. E como em Sobral nessa época do ano o dia só amanhece, mesmo, perto de seis, praticamente abri mão do treino no asfalto pela manhã. Quando dá, estou indo a tarde. Quando não, é na esteira da academia.
Mesmo assim, o longão no final de semana estava sendo cumprido. Nunca menos de 18km. Fiz treinos de 18km, 20km, 22km, 25km, 26km e alguns desses me sentindo inteiro ao final (nas manhãs nubladas com leve chuva é bem mais fácil). Comparado ao período de preparação para a prova da Pague Menos em setembro de 2016, para o Desafio das Pontes eu estava muito melhor preparado. Além disso, a parte de fortalecimento na academia estava sendo melhor cumprida em 2017.
Sendo assim, eu estava tranquilo para esta prova.
Na sexta cheguei à capital Alencarina e o Valber já tinha pegado nossos kits. Corrida roots!
Número de peito? Chip? Isso é para as corridas do tipo Nutella! Só camisa e pulserinha para receber a medalha no final. Como nunca tivemos fetiche por kits de corrida, sem problemas. Queremos correr! E como fora prometido ambulância e hidratação (ainda que a cada 5km), então pronto.

Mas ainda na sexta, aconteceu algo lamentável. Um corredor (Augusto) fora atacado e assaltado na Beira-Mar enquanto corria. Três criaturas o cercaram, derrubaram com violência e levaram um relógio/gps e um cordão. No sábado apareceram imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos próximo ao local do crime.
Tive a sorte de não ser agredido de fato, mas já tive uma arma colocada em minha nuca e sei bem que não estamos seguros em local algum. Por outro lado, isso continua acontecendo – e não vai parar de acontecer – pois sempre há alguém que compra esse relógio e esse cordão. Não é um problema que se resume ao vagabundo sem coração e à vítima trabalhadora. É muito, mas muito mais complexo.
No sábado, acordei cedo e não dormi a tarde. A ideia era fazer com que o sono chegasse cedo para ter um bom descanso na noite anterior ao Desafio. Mas…
A tarde JC nos surpreende com uma febre repentina e alta. Fizemos o básico, que foi controlar a febre, mas ela voltava. Vômito. Moleza… Tentamos contato com sua pediatra – que consultara ele na quinta-feira – e houve demora na resposta. Quando pudemos agir, eram mais de 10 da noite. Farmácia aberta no Conjunto Ceará e adjacências depois das dez? Não encontramos… Depois de rodar pela Augusto dos Anjos conseguimos encontrar uma farmácia que fecharia dentro de 15 minutos, às 23h.
Meia-noite foi quando consegui deitar. Dormir, não. Foram cochilos olhando o celular para saber as notícias do pequeno (dormimos em casas diferentes quando estamos em Fortaleza) e rapidamente eram 4 da manhã. A febre por lá tinha dado uma trégua e, como a orientação da médica era que fôssemos controlando até 48 horas, não tinha mais muito o que ser feito, a não ser o monitoramento. Então resolvi ir pra corrida mesmo assim.
A gente nem fazia ideia de onde estava se metendo…
Mesmo não participando da prova, Victor e Adriana se dispuseram a nos levar para a largada (Caucaia, ponte sobre o Rio Ceará) e depois nos trazer de volta, saindo da linha de chegada (Sabiaguaba). Até então, não fazíamos ideia do quão importante seria essa forcinha…
Parte da galera de Sobral.
Saímos as 5h com tempo fechado. Esperávamos chuva braba ao longo da prova. Por volta das 5h30 chegamos ao ponto inicial, encontramos alguns conhecidos e eu, a galera de Sobral; Celso, Elder, Wladir e o pessoal da Sprint Training, Jorge, Mauro, Wilson e o pessoal da MB Sports e a “parça” de treinos, Camilla.
Camilla e eu. Finalmente uma prova fora de Sobral.
Sendo uma corrida roots, nada de “animador de largadas”. Foi no grito, depois de uma oração pelo colega corredor atacado na sexta-feira. Sem linha de partida, saímos cruzando a primeira ponte. Subidinha para aquecer.
Comecei correndo com o Valber mas minha cabeça estava longe… Meu ritmo estava lento. Não me importei muito pois a prova era longa. Não adiantava apertar agora.
No segundo quilômetro o Valber já se desgarrou. Estranhei um pouco pois na corrida da Pague Menos ele deixou para fazer isso depois de uma hora, e não de 12 minutos! Mas eu permaneci no mesmo ritmo, vendo a turma passar, sem pressa.
Por volta do quilômetro 03 a Camilla me alcança e fazemos uns dois km juntos. Nesse interstício, nossos Anjos da Guarda de hoje, Adriana e Victor, nos encontram, trazem água.

Logo em seguida o primeiro ponto de hidratação, na avenida Leste-Oeste. Camilla “foi embora” e eu na minha. Pensei seriamente em parar e ligar para o Victor para que eu pudesse ir pra casa. Mas como o telefone não tocou, julguei que estava tudo sob controle com o JC.
Depois desse ponto começa a emoção: meu pé direito fica dormente. Parei, coloquei o pé apontando pra baixo na intenção de fazer o sangue descer. Uns dois minutinhos e parecia tudo bem. Continuei.
Passamos pelo IML, Marina Park e quase no Dragão do Mar, de novo. Parei, afrouxei ainda mais o cadarço, e depois de uns dois minutinhos, retomei. Nesse momento o Jorge, de Sobral, passa por mim e pergunta o que aconteceu. Quando eu falo, um colega corredor que ia do seu lado faz uma cara de quem ouviu eu dizer que meu pé ia cair. E sol parecia vindo de Sobral.
E… De novo! Tentei ir assim mesmo e ao chegar no próximo ponto de hidratação, já na Beira-Mar, parei novamente. Tirei o tênis, mexi nos dedos e no pé e continuei. Depois de uns 5 minutos, adivinha? De novo. Ai eu resolvi ir assim mesmo. Olhava para baixo e o pé ainda estava lá. Só que isso, de alguma forma, gerou uma sobrecarga na perna direita. Depois de passar pelo Mercado dos Peixes, o primeiro aviso de cãibra na panturrilha direita. Parei, tirei o tênis para amenizar a dormência, alonguei um pouco as panturrilhas e fui num ritmo mais lento.
O pé não adormeceu mais, mas a panturrilha deu uns dois avisos e depois cãibra de vera! Aquela sensação de que estão pegando a panturrilha e fazendo massa de pão… Parei… Caminhei… E a galera passando.
A partir desse instante eu só tinha uma meta: terminar a prova e não ser o último.
Fui caminhando e trotando, caminhando e trotando. Na caminhada olhava para trás e via que a fila tava grande, ainda. Percebi que vários corredores estavam nessa também, de andar e correr. Então por alguns quilômetros fiquei “marcando” esse pessoal. Caminhava e corria até alcançá-los. Ai eles caminhavam e depois me alcançavam… Ficamos nessa arrumação por cerca de uma hora.
Esse período da prova foi novidade para mim pois nunca tinha caminhado tanto numa corrida. E ai percebi como tem gente legal no mundo, ainda. Em todas as vezes que parei, algum colega perguntava se estava tudo ok, me ofereciam água… O pessoal que estava dando suporte para os alunos de assessorias também deram uma baita força. Por alguns momentos até achei que o mundo ainda teria jeito, mas lembrei de que nem todo mundo corre. E de que os canalhas também têm coração e pulmão…
A parte da Praia do Futuro – que parecia mais cenário do Mad Max – foi a mais complicada. Não tinha subida, mas era campo aberto. Sol e vento castigando. Já por volta do quilômetro 20, no último ponto de hidratação, estacionei. Ao todo foram oito minutos: bebi três copinhos de água, comi dois pedaços de rapadura, peguei gelo e coloquei na meia (panturrilha), peguei a água que ia ficando do gelo e tomei banho. Isso deu uma revigorada. Pena que não fiz isso antes!
Fui num ritmo lento, porém tentando manter alguma constância. Passou por mim um senhor. Certamente mais de 60, mas ele não parava. Devagar e sempre. Na sua camisa, estava escrito “Jorge Mendes”, o número 7 e o nome de uma escola. Que exemplo! Como faltavam uns 4 ou 5 quilômetros, minha nova meta agora era alcançar o “Seu Jorge”. Não tive pressa.
Chegando ao ponto final dos ônibus do Caça e Pesca, mais umas duas curvas e a outra ponte apareceria. Nesse instante vi que toda minha musculatura estava na iminência do colapso quando subi um simples batente. Doeu só tudo.
Na última curva, um colega corredor voltando andando com a medalha no peito. Uma mulher que ia ao meu lado disse: “nossa, há sobreviventes!”.
Finalmente avistei a outra ponte e comecei a rir. Ri mesmo! Era uma “ladeirinha”… Tentei lembrar de alguma música que tivesse a palavra piada ou joke mas não lembrei. Eu queria cantar (parece que eu já não estava bem do juízo. Deve ter sido o Sol). Então, corri. Passei o Seu Jorge e o que vi ao final da ponte foi inusitado: uns quatro colegas no chão, parecendo feridos de guerra. Eram cãibras! Foi semi-chocante. Mas vi também a concentração ao fundo. Opa, ia acabar, finalmente.
Chegando à rotatória depois da ponte, vi a Adriana. Ela me olhou assustada perguntando se eu tava bem. E eu, no último suspiro de otimismo disse “sim, tô bem. Mas onde é a chegada?”. Ela disse: “é aqui, acabou”. Ora, ora. Nada de pórtico. É corrida roots, paê! Depois de 3h02min, cheguei na outra ponte!

Em seguida, a Adriana me apontou a fila das medalhas e lanche, e falou que o Valber estava na ambulância, no soro! Que merda!
Felizmente uma outra colega corredora deu uma força, trazendo as medalhas até a fila. Peguei umas frutas, água e queria comer direitinho. Ora, se o Paul Ter-Valber tava na ambulância, o que seria de mim depois de tanta dor pelo corpo? Mas ai, quem disse que consegui abrir a boca pra morder uma simples banana!? Isso mesmo, eu estava prestes a travar todo. Não conseguia abrir a boca direito. Meu receio era abrir e dar cãibra “nos queixos”!
Consegui a duras penas comer e fui até a ambulância. Victor e Adriana lá, dando todo o apoio pro Valber, que ainda estava deitadão e visivelmente abatido. Perguntei se ele não queria voltar pra primeira ponte corrento e ele reagiu sorrindo. Ufa, tava bem.
Mais uns 15 minutos e a médica o liberou. Aliás, vale registrar que a equipe de ambulância foi bastante atenciosa com ele. Que bom!
Se não fosse esses outros dois hoje… Sei não, viu!? Mas, quem tem amigos, tem tudo.
Victor ajudou o Valber até chegar ao carro e ele foi melhorando ao longo da volta pra casa. Agora é descanso e hidratação.
Com relação a prova, em si, o mais correto é classificar como treino com medalha, o que não desmerece em nada o evento. É Desafio mesmo! Fisicamente e psicologicamente (para os ainda novatos em longas distâncias) falando. Mesmo assim, ano que vem quero estar de novo. Sem dores!
Vários corredores falaram em fazer protestos ou homenagear o colega corredor que ainda encontra-se hospitalizado, mas não vi praticamente coisa alguma; a não ser o Valber que em vez de número de peito usou um #FORÇAAUGUSTO. Poucas pessoas de camisa branca, conforme “combinado” nas redes…
Não sei exatamente o que aconteceu comigo. Eu sabia que ia ser difícil, mas não esperava que fosse sofrer tanto. A prova acabou as 9h para mim e até as 12h eu ainda sentia cãibras nos dedos dos pés, fisgadas nas costas e abdômen… Foi punk, o lance! A noite foi mal dormida e a cabeça não estava legal para correr hoje. Mais um aprendizado.
Esta semana pretendo me dar descanso. E é provável que esta seja a única corrida de 2017. Nada de divulgação da MMF e a da Pague Menos consegui vaga apenas para os 2km… Pode rir.
Tive a sorte de não ser agredido de fato, mas já tive uma arma colocada em minha nuca e sei bem que não estamos seguros em local algum. Por outro lado, isso continua acontecendo – e não vai parar de acontecer – pois sempre há alguém que compra esse relógio e esse cordão. Não é um problema que se resume ao vagabundo sem coração e à vítima trabalhadora. É muito, mas muito mais complexo.
No sábado, acordei cedo e não dormi a tarde. A ideia era fazer com que o sono chegasse cedo para ter um bom descanso na noite anterior ao Desafio. Mas…
A tarde JC nos surpreende com uma febre repentina e alta. Fizemos o básico, que foi controlar a febre, mas ela voltava. Vômito. Moleza… Tentamos contato com sua pediatra – que consultara ele na quinta-feira – e houve demora na resposta. Quando pudemos agir, eram mais de 10 da noite. Farmácia aberta no Conjunto Ceará e adjacências depois das dez? Não encontramos… Depois de rodar pela Augusto dos Anjos conseguimos encontrar uma farmácia que fecharia dentro de 15 minutos, às 23h.
Meia-noite foi quando consegui deitar. Dormir, não. Foram cochilos olhando o celular para saber as notícias do pequeno (dormimos em casas diferentes quando estamos em Fortaleza) e rapidamente eram 4 da manhã. A febre por lá tinha dado uma trégua e, como a orientação da médica era que fôssemos controlando até 48 horas, não tinha mais muito o que ser feito, a não ser o monitoramento. Então resolvi ir pra corrida mesmo assim.

Mesmo não participando da prova, Victor e Adriana se dispuseram a nos levar para a largada (Caucaia, ponte sobre o Rio Ceará) e depois nos trazer de volta, saindo da linha de chegada (Sabiaguaba). Até então, não fazíamos ideia do quão importante seria essa forcinha…

Saímos as 5h com tempo fechado. Esperávamos chuva braba ao longo da prova. Por volta das 5h30 chegamos ao ponto inicial, encontramos alguns conhecidos e eu, a galera de Sobral; Celso, Elder, Wladir e o pessoal da Sprint Training, Jorge, Mauro, Wilson e o pessoal da MB Sports e a “parça” de treinos, Camilla.

Sendo uma corrida roots, nada de “animador de largadas”. Foi no grito, depois de uma oração pelo colega corredor atacado na sexta-feira. Sem linha de partida, saímos cruzando a primeira ponte. Subidinha para aquecer.
Comecei correndo com o Valber mas minha cabeça estava longe… Meu ritmo estava lento. Não me importei muito pois a prova era longa. Não adiantava apertar agora.
No segundo quilômetro o Valber já se desgarrou. Estranhei um pouco pois na corrida da Pague Menos ele deixou para fazer isso depois de uma hora, e não de 12 minutos! Mas eu permaneci no mesmo ritmo, vendo a turma passar, sem pressa.
Por volta do quilômetro 03 a Camilla me alcança e fazemos uns dois km juntos. Nesse interstício, nossos Anjos da Guarda de hoje, Adriana e Victor, nos encontram, trazem água.
Logo em seguida o primeiro ponto de hidratação, na avenida Leste-Oeste. Camilla “foi embora” e eu na minha. Pensei seriamente em parar e ligar para o Victor para que eu pudesse ir pra casa. Mas como o telefone não tocou, julguei que estava tudo sob controle com o JC.
Depois desse ponto começa a emoção: meu pé direito fica dormente. Parei, coloquei o pé apontando pra baixo na intenção de fazer o sangue descer. Uns dois minutinhos e parecia tudo bem. Continuei.
Passamos pelo IML, Marina Park e quase no Dragão do Mar, de novo. Parei, afrouxei ainda mais o cadarço, e depois de uns dois minutinhos, retomei. Nesse momento o Jorge, de Sobral, passa por mim e pergunta o que aconteceu. Quando eu falo, um colega corredor que ia do seu lado faz uma cara de quem ouviu eu dizer que meu pé ia cair. E sol parecia vindo de Sobral.
E… De novo! Tentei ir assim mesmo e ao chegar no próximo ponto de hidratação, já na Beira-Mar, parei novamente. Tirei o tênis, mexi nos dedos e no pé e continuei. Depois de uns 5 minutos, adivinha? De novo. Ai eu resolvi ir assim mesmo. Olhava para baixo e o pé ainda estava lá. Só que isso, de alguma forma, gerou uma sobrecarga na perna direita. Depois de passar pelo Mercado dos Peixes, o primeiro aviso de cãibra na panturrilha direita. Parei, tirei o tênis para amenizar a dormência, alonguei um pouco as panturrilhas e fui num ritmo mais lento.
O pé não adormeceu mais, mas a panturrilha deu uns dois avisos e depois cãibra de vera! Aquela sensação de que estão pegando a panturrilha e fazendo massa de pão… Parei… Caminhei… E a galera passando.
A partir desse instante eu só tinha uma meta: terminar a prova e não ser o último.
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Prova roots tem fotógrafo? Não! Mas tinha o Edivaldo Nascimento registrando com seu smartphone. |
Esse período da prova foi novidade para mim pois nunca tinha caminhado tanto numa corrida. E ai percebi como tem gente legal no mundo, ainda. Em todas as vezes que parei, algum colega perguntava se estava tudo ok, me ofereciam água… O pessoal que estava dando suporte para os alunos de assessorias também deram uma baita força. Por alguns momentos até achei que o mundo ainda teria jeito, mas lembrei de que nem todo mundo corre. E de que os canalhas também têm coração e pulmão…
A parte da Praia do Futuro – que parecia mais cenário do Mad Max – foi a mais complicada. Não tinha subida, mas era campo aberto. Sol e vento castigando. Já por volta do quilômetro 20, no último ponto de hidratação, estacionei. Ao todo foram oito minutos: bebi três copinhos de água, comi dois pedaços de rapadura, peguei gelo e coloquei na meia (panturrilha), peguei a água que ia ficando do gelo e tomei banho. Isso deu uma revigorada. Pena que não fiz isso antes!
Fui num ritmo lento, porém tentando manter alguma constância. Passou por mim um senhor. Certamente mais de 60, mas ele não parava. Devagar e sempre. Na sua camisa, estava escrito “Jorge Mendes”, o número 7 e o nome de uma escola. Que exemplo! Como faltavam uns 4 ou 5 quilômetros, minha nova meta agora era alcançar o “Seu Jorge”. Não tive pressa.
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“Seu Jorge.” Que exemplo! Foto: Edivaldo Nascimento. |
Chegando ao ponto final dos ônibus do Caça e Pesca, mais umas duas curvas e a outra ponte apareceria. Nesse instante vi que toda minha musculatura estava na iminência do colapso quando subi um simples batente. Doeu só tudo.
Na última curva, um colega corredor voltando andando com a medalha no peito. Uma mulher que ia ao meu lado disse: “nossa, há sobreviventes!”.
Finalmente avistei a outra ponte e comecei a rir. Ri mesmo! Era uma “ladeirinha”… Tentei lembrar de alguma música que tivesse a palavra piada ou joke mas não lembrei. Eu queria cantar (parece que eu já não estava bem do juízo. Deve ter sido o Sol). Então, corri. Passei o Seu Jorge e o que vi ao final da ponte foi inusitado: uns quatro colegas no chão, parecendo feridos de guerra. Eram cãibras! Foi semi-chocante. Mas vi também a concentração ao fundo. Opa, ia acabar, finalmente.
Chegando à rotatória depois da ponte, vi a Adriana. Ela me olhou assustada perguntando se eu tava bem. E eu, no último suspiro de otimismo disse “sim, tô bem. Mas onde é a chegada?”. Ela disse: “é aqui, acabou”. Ora, ora. Nada de pórtico. É corrida roots, paê! Depois de 3h02min, cheguei na outra ponte!

Em seguida, a Adriana me apontou a fila das medalhas e lanche, e falou que o Valber estava na ambulância, no soro! Que merda!
Felizmente uma outra colega corredora deu uma força, trazendo as medalhas até a fila. Peguei umas frutas, água e queria comer direitinho. Ora, se o Paul Ter-Valber tava na ambulância, o que seria de mim depois de tanta dor pelo corpo? Mas ai, quem disse que consegui abrir a boca pra morder uma simples banana!? Isso mesmo, eu estava prestes a travar todo. Não conseguia abrir a boca direito. Meu receio era abrir e dar cãibra “nos queixos”!
Consegui a duras penas comer e fui até a ambulância. Victor e Adriana lá, dando todo o apoio pro Valber, que ainda estava deitadão e visivelmente abatido. Perguntei se ele não queria voltar pra primeira ponte corrento e ele reagiu sorrindo. Ufa, tava bem.
Mais uns 15 minutos e a médica o liberou. Aliás, vale registrar que a equipe de ambulância foi bastante atenciosa com ele. Que bom!

Victor ajudou o Valber até chegar ao carro e ele foi melhorando ao longo da volta pra casa. Agora é descanso e hidratação.
Com relação a prova, em si, o mais correto é classificar como treino com medalha, o que não desmerece em nada o evento. É Desafio mesmo! Fisicamente e psicologicamente (para os ainda novatos em longas distâncias) falando. Mesmo assim, ano que vem quero estar de novo. Sem dores!
Vários corredores falaram em fazer protestos ou homenagear o colega corredor que ainda encontra-se hospitalizado, mas não vi praticamente coisa alguma; a não ser o Valber que em vez de número de peito usou um #FORÇAAUGUSTO. Poucas pessoas de camisa branca, conforme “combinado” nas redes…
Não sei exatamente o que aconteceu comigo. Eu sabia que ia ser difícil, mas não esperava que fosse sofrer tanto. A prova acabou as 9h para mim e até as 12h eu ainda sentia cãibras nos dedos dos pés, fisgadas nas costas e abdômen… Foi punk, o lance! A noite foi mal dormida e a cabeça não estava legal para correr hoje. Mais um aprendizado.
Esta semana pretendo me dar descanso. E é provável que esta seja a única corrida de 2017. Nada de divulgação da MMF e a da Pague Menos consegui vaga apenas para os 2km… Pode rir.
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