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Efeito Borboleta

Ontem, 29 de março, estava eu fazendo meu humilde treino intervalado em uma das ladeiras da Av. Cleto Ferreira da Ponte, em Sobral. Pra quem mora aqui, é aquela avenida que vai do estádio até a entrada do bairro Renato Parente. Sai de casa por volta de 18:30 e o plano era fazer 10 tiros de subida (por volta de 300 metros cada).
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Foi no “pé” daquela ladeirinha logo à frente, pela ciclovia.

Desci a ladeira andando e subi correndo. Potência máxima. Uma, duas… Ao me preparar para a sétima subida, dois meninotes brotaram do asfalto. Um com arma em punho anuncia calmamente: “é um assalto”. O outro, moreno de cabelo amarelo, faz a cobertura. Segurando seu par de sandálias…

Apesar de ser uma avenida com quatro faixas e bem iluminada, nesse curto espaço de tempo, não lembro de ter visto veículo algum. Foram uns 40 segundos nós três ali, sob a fina chuva. O menino armado insistindo que eu lhe entregasse minha carteira… Falei que quem corre não anda com carteira. O outro ainda chegou a dizer: “bora mah, tem não”. Acho que ele sequer ouviu… Repetiu mais umas três ou quatro vezes… Talvez ele tenha pensado que o cinto de hidratação (aquele negócio de carregar garrafa com água) era uma pochete.

O armado se posicionou atrás de mim e encostou o cano da arma na minha nuca: “entrega logo se não eu atiro”.

Levou a “pochete”… Depois lembrei que o telefone que uso mesmo, estava lá (eu sempre levo para o caso de eu “quebrar” e ter como chamar o “reboque”). Levou também meu celularzinho que nem chip tinha, que só servia para marcar a distância.

Atravessaram a avenida correndo. Ali tem uns campos de futebol e um loteamento. Mais ou menos nos fundos do supermercado Pinheiro. Fiquei ali, parado, tipo Cristiano Ronaldo antes de bater uma falta, olhando os dois… Eles olharam algumas vezes e sumiram na escuridão.

Acho que ainda fiquei mais uns três ou quatro minutos. Olhando e pensando. Estático.

Não senti raiva. Não senti medo. Senti menos esperança…

Aquilo que eles me levaram, não me fará falta. Talvez até a arma que o menor segurava, fosse de brinquedo. Enfim, posso ter escapado da morte mas também posso ter caído na malandragem de duas crianças.

Mas o que mais me incomoda nisso é saber que os dois são peças de uma engrenagem maior: eles me tomam mas vendem para alguém que compra. Alguém que provavelmente reclama da corrupção mas que não pensa duas vezes antes de comprar um aparelho celular por 50 reais.

Já me ofereceram coisas desse tipo. TV de LCD por 100 reais… Já vi gente dizendo “ah, se eu não comprar, vem outro e compra…”. E assim vamos alimentando esse bicho papão que é a violência.

Nesse episódio, entendi que esse tipo de violência não é meramente uma vontade do ser humano em fazer o mal. É comércio e corrupção, lado a lado.

O que toma, quer o dinheiro fácil. Talvez frustrado por ver na televisão os garotos usando Nike e comendo sanduíche. Certamente pelo fato dos pais terem fracassado na missão da educação.

O que faz a receptação, ou vai praticar comércio ou acha que está fazendo um bom negócio. Comprar um celular por 50 reais é um ótimo negócio, afinal!?

Sendo assim, minha descrença em dias melhores aumentou alguns pontos. As pequenas corrupções do cotidiano, não se limitam a elas próprias; elas têm consequência.

Um vigilante que morre na porta de uma escola, não é apenas vítima da violência. Pode estar sendo vítima da corrupção daquele que desejar ter uma arma ilegalmente.

Um motorista que morre num cruzamento qualquer, não é apenas vítima do bandido-ruim-filho-de-lúcifer. Pode estar sendo vítima do corrupto que quer um carro para ostentar…

Enfim, pensemos bem em nossos atos. Não existem “pequenas corrupções”. É um efeito borboleta.

PS: Não posso nem dizer que “foi só o susto”. Realmente me surpreendi com minha serenidade rsrs. Mais tarde termino o treino. Domingo tem corrida e a vida continua.

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