Quem é praticante de corrida de rua e usa o Facebook, sabe da existência de um grupo com mais de 50 mil participantes, o Viciados em Corridas de Rua. O assunto da semana foi a bola levantada por um dos membros a respeito do tempo de corrida na São Silvestre 2015 de um senhor de 61 anos de idade: 15 km em menos de 53 minutos!
Segundo sua pesquisa, esse tempo daria recorde mundial na categoria com folgas. Também checou que o senhor em questão não tem um histórico para fazer tal tempo. O caso gerou bafafá no grupo pelo fato do senhor ter feito inúmeras postagens anteriores à data da prova avisando que faria a prova em menos de 59 minutos. Muita gente defendendo o corredor veterano. Muita gente concordando com a argumentação do outro corredor, o que trouxe a questão à tona.
Para completar, o dito senhor não apareceu na relação de resultados e disse que entraria com uma ação contra a empresa que organiza a prova. Gravou um vídeo exibindo o tempo de seu relógio e solicitando a participação dos membros do grupo em um abaixo assinado virtual. A organização chegou a publicar o nome dele como vencedor mas dias depois o desclassificou, pois ele não teria passado por um dos pontos de controle da prova, ou seja, o popular “cortar caminho”.
Mais ainda: na sexta, começou a circular na “mídia” que no Fantástico de hoje, domingo, 10 de janeiro, iria aparecer um outro caso de “trapaça”. De fato, hoje vi a chamada para o programa com um senhor de 56 anos. O dito “trapaceador” aceitou gravar para o Fantástico. Uau!
As três questões correram em paralelo: o protesto do corredor veterano, a argumentação do colega de grupo e o novo trapaceador. Comentário vai, comentário vem, postagem dali, postagem de lá e temos um cenário perfeito para o que dizia Cazuza em seu Blues da Piedade: “…Como insetos em volta da lâmpada”!
Acho que tudo que ainda ecoa no dito grupo devido a São Silvestre 2015, deveria servir para que pensássemos sobre nossa postura diante do que aparece nas redes sociais.
Não se trata de estar de um lado ou de outro. De concordar ou discordar. Trata-se de refletir, de dar um tempo a si mesmo para analisar o que está à mesa e, ai sim, chegar a uma conclusão.
Sobre o corredor mais idoso, muita gente o apoiou a princípio e condenou o rapaz que mostrou (com argumentos estruturados) que algo parecia incompatível. Ai, quando o corredor é desclassificado, pronto: a sentença foi dada e termina a discussão. A massa antes defensora ardorosa agora está decepcionada e uns outros ainda aproveitam o bonde para cantar a pedra: “eu já sabia!”. Mas o que me incomoda é que a mudança de opinião não se baseou na argumentação do nosso colega; o que decretou a consumação da “trapaça” foi a desclassificação por parte da organização da prova. Como se isso, por si só, fosse motivo para crença inquestionável. Um nome constar ou não em uma lista de resultados é mais convincente do que qualquer argumentação.
Já sobre o corredor que irá aparecer logo mais no Fantástico, não vejo muita gente se perguntando o que leva um “trapaceador” (será que é mesmo?) a aceitar gravar uma matéria para o Fantástico como trapaceador. Será isso mesmo que iremos concluir depois de assistirmos a matéria? O próprio, em entrevista concedida ao jornalista e também corredor Ronaldo Capriotti, admite que largou antes, que esse tempo não foi o dele e que ele não se preocupa com tempo. As imagens mostram ele sorrindo: seria deboche ou comportamento de alguém que realmente foi correr, curtir? A maioria já decretou. Sábio Cazuza…
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Foto: Mônica Maia/Estadão. |
Temos pressa demais. No pace, nas inscrições, na perca de peso, no contador de likes e no julgamento de questões que envolvem uma série de fatores. Julgamos por uma foto, por um sorriso, pois não queremos gastar nosso precioso tempo pensando a respeito: preferimos gastá-lo comentando loucamente todas as postagens que aparecem sobre o assunto da moda.
Saúde a todos!
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